Histórias Não Contadas – Capítulo 18: Verdades Amargas

Esta é a parte 18 de 18 da série Histórias Não Contadas



Sasuke corria pelos telhados de Konoha, o vento frio cortando sua pele, o céu tingido de laranja pelo sol poente. As palavras de Sakura ecoavam em sua mente, cada sílaba uma facada: “Eu escolheria você. Eu e Sasuke nunca fomos compatíveis de verdade.” A dor era crua, misturada à raiva, à culpa, à confusão. Ele havia acabado de terminar com Karin, destruído por sua própria traição, e agora descobria que Sakura, a mulher que ele jurara proteger, amava outro. O vazio que sempre sentira ao lado dela, aliviado apenas por Sarada, parecia agora um abismo. Ele precisava de respostas, de orientação, e só uma pessoa poderia ajudá-lo: Kakashi. Como sensei, como Hokage, Kakashi sempre fora um pilar de neutralidade, alguém que entendia ele e Sakura. Se havia alguém com quem Sasuke podia desabafar, era ele.

No Palácio do Hokage, Sasuke parou na recepção, o ar carregado com o cheiro de incenso e madeira polida. O ninja na entrada, um jovem chunin com olhos nervosos, levantou-se ao reconhecê-lo. — Uchiha-sama… o que o traz aqui? — perguntou, hesitante, claramente intimidado pela presença de Sasuke.

— Preciso falar com o Kakashi. É importante — respondeu Sasuke, a voz fria, mas com um tom de urgência que não passou despercebido. Ele cruzou os braços, os olhos incisivos e uma postura tensa, como um predador pronto para atacar.

O chunin engoliu em seco, apontando para uma cadeira. — Por favor, espere um momento. Vou avisá-lo. — Ele desapareceu por uma porta lateral, deixando Sasuke sozinho na recepção, a mente a mil. As palavras de Sakura giravam em sua cabeça, misturadas à culpa pelo que fizera com Karin, à memória das lágrimas dela no bosque. Ele cerrou os punhos, tentando conter a tempestade interna.

O som do elevador abrindo interrompeu seus pensamentos. Um grupo saiu, as presenças imponentes enchendo o saguão com uma energia quase palpável. Os líderes da Aliança Shinobi e das Grandes Nações. O Raikage A liderava, seus músculos definidos visíveis mesmo sob a capa, sorrindo de algo que eles conversavam. Ao lado dele, Killer B, com seu jeito descontraído, mas um chakra denso que fazia o ar vibrar. Kurotsuchi, a Tsuchikage, caminhava com passos firmes e um olhar afiado apesar da breve risada que dava saindo do elevador, assim como o Raikage. Gaara e Temari, mais contidos, exalavam uma calma quase etérea. Shikamaru vinha por último, o rosto sério, o cigarro apagado entre os dedos como quem espera o momento propício para acender. Eles estavam a caminho de um lanche durante o recesso da reunião dos Kages, mas quando Shikamaru viu Sasuke, seu estômago revirou. A conversa com Kakashi minutos antes – o aviso sobre não fazer “nada estúpido” – ainda ecoava, e a presença de Sasuke ali, com aquele olhar frio, era um mau presságio.

Shikamaru saiu do elevador mais rápido, tomando a frente do grupo e caminhando diretamente até Sasuke. 

— Sasuke, o que você tá fazendo aqui? — perguntou, a voz baixa, mas firme, tentando manter a situação sob controle. Ele posicionou-se entre Sasuke e os Kages, os olhos estreitados, avaliando cada movimento.

Sasuke ergueu o queixo, o tom frio como gelo. 

— Preciso falar com o Kakashi. É pessoal. — Ele fez uma pausa, os olhos fixos em Shikamaru, captando a tensão no rosto dele. — Por que a pergunta, Shikamaru? Onde está Kakashi?

A pergunta não pegou Shikamaru desprevenido, mas mesmo assim ele hesitou, a mente acelerada. Ele suspeitava do caso de Kakashi e Sakura, e a presença de Sasuke ali, tão instável, sugeria que ele descobrira algo. 

— Calma, Sasuke — disse, levantando uma mão, o tom conciliador. — Não é lugar pra resolver esse tipo de coisa. Vamos conversar com calma, tá bom?

Sasuke franziu o cenho, confuso com a escolha de palavras. — Esse tipo de coisa? — repetiu, a voz ganhando um tom perigoso. — O que você sabe, Shikamaru? — Ele deu um passo à frente, os olhos estreitando, o chakra começando a vazar, denso e opressivo.

O movimento foi interpretado como ameaça pelos Kages. Em um piscar de olhos, o Raikage A e Killer B se colocaram entre Sasuke e Shikamaru, o ar crepitando com uma onda de eletricidade estática. As luzes do saguão piscaram, o chão parecendo vibrar sob o peso do chakra combinado dos dois. Sasuke ativou o Sharingan em resposta, os olhos vermelhos brilhando, a tensão escalando em segundos. O Raikage encarou-o, a voz grave ecoando no saguão. — Tem algum problema aqui, Uchiha? — perguntou, os punhos cerrados, o corpo pronto para agir.

Killer B complementou enquanto inclinava a cabeça, um meio-sorriso nos lábios. — Espero que não, mano. Da última vez que ele apareceu com esse chakra todo pesado perto dos Kages, não terminou bem pra ele, lembra? — A menção ao passado – quando Sasuke, sob ordens da Akatsuki, invadira uma reunião dos Kages e quase fora morto – pairou no ar como uma ameaça velada.

Sasuke cerrou os dentes, o Sharingan fixo nos dois, a memória daquele dia voltando como um flash. Ele sabia que não podia enfrentá-los, não ali, não agora, mas recuar não era sua natureza. 

— Não vim procurar briga — disse, a voz cortante. — Só quero falar com o Hokage.

Shikamaru, percebendo a situação saindo de controle, passou à frente do Raikage e de Killer B, levantando as mãos em um gesto de paz. 

— Pessoal, por favor — disse, o tom firme, mas calmo. — Vocês podem ir pra a lanchonete, como planejado. Eu cuido disso. — Ele virou-se para Sasuke, os olhos implorando que ele cooperasse. — Sasuke, vem comigo. Vamos conversar ali. Sem confusão. — Disse apontando para uma sala lateral.

O Raikage e Killer B trocaram um olhar, a tensão ainda palpável. Kurotsuchi cruzou os braços, claramente desconfiada, enquanto Gaara observava em silêncio, seu olhar calmo, mas penetrante. Após uma última encarada entre Sasuke, o Raikage e Killer B, os Kages seguiram em direção à lanchonete, o som de seus passos ecoando no saguão. Shikamaru segurou o braço de Sasuke, quase o arrastando para uma sala lateral, a porta fechando com um clique seco atrás deles.


Enquanto isso, Sakura voava pelos telhados de Konoha, o vento frio batendo em seu rosto, o coração disparado enquanto procurava por Sasuke. Seus olhos varriam as ruas abaixo, buscando qualquer sinal dele – uma capa esvoaçante, um vulto nos becos. O Palácio do Hokage era o destino mais provável, mas a incerteza a consumia. E se ele tivesse ouvido tudo? E se decidisse fazer algo impulsivo, como confrontar alguém ou, pior, voltar às trevas? O pensamento a fez acelerar, os pés batendo nos telhados com força.

Ao passar pela rua principal, seus olhos captaram uma figura familiar: Karin, caminhando lentamente, os ombros curvados, o rosto vermelho e inchado de tanto chorar. Sakura parou abruptamente, saltando do telhado e aterrissando na frente dela com um movimento tão rápido que fez Karin se assustar, dando um passo para trás e quase caindo. Instintivamente, Sakura estendeu a mão, segurando-a pela blusa, mas o gesto saiu mais brusco do que pretendia, quase agressivo. Percebendo o erro, ela soltou Karin assim que viu que ela se equilibrara, murmurando um rápido: — Desculpa.

Karin ajustou os óculos tortos, as mãos trêmulas, o rosto ainda molhado de lágrimas. — Sakura… — murmurou, a voz fraca, quase inaudível. Ela parecia pequena, quebrada, uma sombra da mulher confiante que Sakura conhecia.

Sakura respirou fundo, tentando manter o foco. — Você viu o Sasuke? — perguntou, a voz firme, mas com um toque de urgência. — Ele… ele saiu de casa, e eu preciso encontrá-lo.

Karin assentiu lentamente, os olhos baixos, evitando o olhar de Sakura. — Sim… a gente se encontrou mais cedo. Fora da vila, no bosque. — Ela fez uma pausa, a voz tremendo. — Não se preocupa. Não vai ter fofoca. Eu… eu prometo. — Ela engoliu em seco, as lágrimas voltando. — Eu tava indo pro hospital agora. Pedir demissão. Vou sumir da aldeia, da vida de vocês.

Sakura sentiu uma pontada de culpa, misturada à pena. Karin, com seu rosto vermelho e olhos inchados, parecia carregar o peso de anos de dor. Por um momento, Sakura esqueceu sua missão, tocada pela fragilidade da mulher à sua frente. — Karin, não — disse, a voz suavizando. — Não peça demissão. Não agora. — Ela colocou a mão no ombro de Karin, um gesto que pretendia ser reconfortante, mas que saiu firme, quase autoritário. — A gente vai conversar. Somos adultas. Vamos resolver isso como adultas.

Antes que Karin pudesse responder, um entregador passou de bicicleta, o cheiro forte de flores frescas que ele carregava invadindo o ar. Karin levou a mão à boca, o rosto empalidecendo, e correu para uma lixeira próxima, dobrando-se enquanto vomitava. O som era gutural, desesperado, e Sakura ficou paralisada, os olhos arregalados. Sua mente de médica trabalhou rápido, conectando os pontos – o enjoo, o estado emocional de Karin. Ela correu até Karin, que ainda se apoiava na lixeira, o rosto marejado, o corpo tremendo, a pele gelada.

— Karin… — começou Sakura, a voz hesitante, mas firme. — Você tá… grávida? — A pergunta saiu quase como uma acusação, o peso da possibilidade a sufocando.

Karin levantou o olhar, os olhos cheios de medo e culpa, as lágrimas caindo novamente. — Eu… eu não sei — murmurou, a voz quebrada. O pânico a consumiu, e ela caiu de joelhos, as mãos agarrando a blusa de Sakura, como se implorasse por perdão. — Me desculpa, Sakura! Eu juro, eu não queria… se for verdade, eu vou resolver, eu vou sumir, você não precisa se preocupar! — As palavras saíam rápidas, desesperadas, carregadas de anos de submissão aprendida com Orochimaru.

Sakura sentiu o estômago revirar, a culpa e a raiva se misturando. Ela segurou Karin pelos braços, levantando-a com força, mas sem violência. — Não, Karin! — disse, a voz alta, quase um grito. — Você não vai fazer nada! Entendeu? Nada! — Ela fez uma pausa, percebendo os olhares curiosos dos transeuntes na rua. Baixou o tom, mas manteve a firmeza. — Vai pro hospital. Me espera lá. Não fala com ninguém, não faz nada até eu voltar. — Ela segurou o olhar de Karin, os olhos brilhando com uma mistura de determinação e medo. — Entendeu?

Karin, ainda submissa, assentiu com a cabeça, o rosto pálido. — Tá bom… eu prometo — murmurou, a voz quase inaudível. Sakura deu um passo atrás, soltando-a, e repetiu, com um olhar firme: — Não faça nada, Karin. Nada. Até eu voltar.

Karin assentiu novamente, virando-se para a direção do hospital, os passos lentos, como se carregasse o peso do mundo. Sakura ficou parada por um momento, o coração disparado, a mente girando com a possibilidade de Karin estar grávida – de Sasuke. Antes de continuar sua busca, ela olhou o celular e viu uma mensagem de Kakashi: “Sasuke está aqui. Pediu pra falar comigo, mas parece que Shikamaru encontrou ele antes. Vou descobrir o que tá acontecendo. Não acho que seja bom você vir, pode piorar as coisas.”

Sakura hesitou, o celular quente contra a palma da mão. Ela olhou na direção do hospital, onde Karin desaparecera, e depois para o Palácio do Hokage, a silhueta imponente visível contra o céu alaranjado. A indecisão a paralisava. Ir atrás de Karin significava enfrentar a verdade sobre a gravidez, uma verdade que poderia destruir tudo. Ir atrás de Sasuke significava impedir um confronto, mas arriscar expor seu próprio segredo. O sol se punha, o céu tingindo-se de vermelho, como se refletisse o caos em sua mente. Ela estava em uma encruzilhada, e cada caminho parecia levar a um estrago irremediável.


Epílogo

Na sala lateral do Palácio, Shikamaru fechou a porta atrás de si, o som do clique ecoando no espaço pequeno. Sasuke estava de pé, os braços cruzados, o Sharingan desativado, mas o chakra ainda denso, como uma tempestade contida. Shikamaru suspirou, o cansaço evidente em seu rosto. 

— Sasuke, senta — disse, apontando para uma cadeira. — E me diz, com calma, o que você tá fazendo aqui.

Sasuke cerrou os dentes, ainda irritado pela tensão com os Kages. 

— Eu já disse. Preciso falar com o Kakashi. É pessoal. Não tenho tempo pra ficar explicando pra você, Shikamaru. — Ele deu um passo em direção à porta, mas Shikamaru bloqueou o caminho, a sombra projetada no chão parecendo mais pesada que o normal.

— É sobre a Sakura, não é? — perguntou Shikamaru, a voz baixa, mas direta. Sasuke parou, o corpo tenso, os olhos estreitando. Shikamaru continuou, escolhendo as palavras com cuidado. — Olha, Sasuke, eu não sei o que tá acontecendo, mas você nitidamente não está bem. E isso não é bom, nem pra você, nem pra Konoha. Senta, me conta o que tá rolando. Depois a gente vê como falar com o Kakashi.

Sasuke hesitou, a mente voltando às palavras de Sakura. “Eu escolheria você.” A raiva e a dor o consumiam, mas a lógica de Shikamaru o fez recuar. Ele se sentou, relutante, os olhos fixos no chão. 

— O que você sabe sobre a Sakura? — perguntou, a voz fria, mas com um tom de urgência. — Ela tá com alguém. Eu ouvi. E quero saber quem.

Shikamaru engoliu em seco, a suspeita sobre Kakashi pesando em sua mente. Ele precisava ganhar tempo, proteger Konoha – e o Palácio – de um confronto. 

— Só um minuto — disse, levantando a mão. — Vou avisar os Kages que não vou com eles. Fica aqui. — Ele saiu da sala, pegando o celular e digitando rapidamente para Kakashi: “Estou com Sasuke. Acho que ele descobriu algo. Vou tentar acalmá-lo, ganhar tempo e descobrir o que sabe. Você tá me devendo uma. Tô fazendo isso pelo bem de Konoha e da estrutura do Palácio, então, por favor, não desça até eu dizer que pode.”

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