Histórias Não Contadas – Capítulo 15: Verdades Incompletas

Esta é a parte 15 de 18 da série Histórias Não Contadas



O som da porta abrindo ecoou pela casa silenciosa, um ruído seco que cortou a quietude como uma faca. Sasuke levantou do sofá, o coração disparado, os músculos tensos como se estivesse prestes a entrar em combate. Sakura parou na entrada, a bolsa pendurada no ombro, os cabelos cor-de-rosa desalinhados pelo vento lá fora. Por alguns longos instantes, eles apenas se olharam, o ar entre eles carregado de uma tensão quase palpável. O rosto de Sakura era uma máscara de tristeza, os olhos verdes brilhando com uma mistura de dor, raiva e algo que Sasuke não conseguia decifrar – talvez culpa. Ele sentia o peso de mil palavras não ditas entaladas na garganta, imaginando por onde começar, enquanto tentava adivinhar o que passava pela mente dela. Sakura, por sua vez, enfrentava o mesmo turbilhão, os pensamentos girando em torno de Karin, Sasuke, Kakashi e a decisão que precisava tomar.

O silêncio era sufocante, quebrado apenas pelo tique-taque do relógio na parede, um lembrete cruel do tempo que parecia esticar cada segundo. Sasuke abriu a boca, hesitante. — Sakura… — disse, ao mesmo tempo que ela murmurou: — Sasuke…

Eles se interromperam, um silêncio constrangido preenchendo o espaço. Sakura respirou fundo, os ombros relaxando ligeiramente, e apontou para o sofá com um gesto firme, mas suave. — Senta — disse, a voz carregada de emoção, mas controlada. Ela se acomodou na mesinha de centro à frente dele, os joelhos quase tocando os dele, a madeira fria sob suas mãos ancorando-a à realidade. Sasuke obedeceu, sentando-se com os ombros curvados, como se carregasse o peso do mundo. Ele olhou para ela, os olhos escuros brilhando com uma vulnerabilidade que raramente mostrava, antes de desviar o olhar para as próprias mãos, os dedos entrelaçados com força.

Sasuke tomou a frente, a voz rouca, quase quebrada. — Sakura, eu… me desculpa. De novo. — Ele engoliu em seco, a garganta seca, os olhos fixos no chão por um momento antes de encontrarem os dela. — Eu te contei sobre Karin, mas… tem mais. Muito mais. — Ele fez uma pausa, o peito apertado, as palavras saindo como se arrancadas. — Eu me odeio por isso. Por te trair, por deixar isso durar anos. Hoje, enquanto você estava fora, a casa vazia… eu fiquei pensando. Pensando em como seria se você me deixasse. Se levasse a Sarada. E eu sei, Sakura, eu sei que mereço isso. — As lágrimas começaram a se formar, brilhando nos cantos dos olhos, e ele lutou para contê-las. — Mas o medo… o medo de perder vocês é mais forte do que qualquer coisa. E então, pensei nela. Em Karin. E me perguntei… se a amo. Se amo você. Ou se, de alguma forma, amo as duas.

Sakura ficou em silêncio, os olhos fixos nele, o coração em pedaços. A confissão era crua, cada palavra cortando mais fundo, mas também revelando uma verdade que ela não podia ignorar. Sasuke continuou, a voz tremendo. — Com você, Sakura, é… tudo. Você é minha âncora, minha família, a pessoa que sempre esteve lá, mesmo quando eu não merecia. Mas Karin… ela era uma fuga. Sempre disponível, sempre disposta a me dar o que eu queria, sem exigir nada. E eu me aproveitei disso. Me deixei levar por essa… fraqueza. — Ele abaixou a cabeça, as lágrimas finalmente caindo, pingando no colo. — Me desculpa, Sakura. Por tudo. Por te machucar, por colocar tudo em risco. Eu não quero perder você. Não quero perder Sarada.

O som abafado dos soluços dele encheu a sala, e Sakura sentiu um aperto no peito. A culpa verdadeira na voz dele era inegável, e por um instante, ela sentiu pena. As palavras de Karin ecoavam em sua mente: “Sasuke te ama. A família é a coisa mais importante pra ele.” Mas então, como uma sombra, a imagem de Kakashi surgiu, trazendo consigo memórias dos encontros furtivos, do calor de suas mãos, do amor que crescia entre eles, tão intenso quanto o que sentia por Sasuke. Ela se sentia culpada por não estar no lugar dele, chorando, destruída. Seu caso com Kakashi era talvez mais profundo, mais enraizado, e ainda assim, uma voz interna a justificava: “Ele mereceu, Sakura. Quando ele estava com Karin e Orochimaru, você sofreu sozinha, e Kakashi foi seu apoio.”


Sem querer, a mente de Sakura vagou para uma noite meses atrás, nas Termas de Konoha. O vapor subia em espirais, o aroma de pinho preenchendo o ar enquanto ela e Kakashi se encontravam em segredo. Ele a puxara para si, os lábios roçando sua nuca, a voz rouca sussurrando seu nome. — Sakura… — murmurou, enquanto suas mãos exploravam sua pele, cada toque uma mistura de reverência e desejo. Ela se entregara completamente, os gemidos abafados pelo som da água, o coração disparado com a certeza de que o que sentia por ele era mais do que paixão. Era amor. E isso a aterrorizava, porque significava trair Sasuke, trair Sarada, trair a si mesma.

A memória a trouxe de volta à sala, o rosto de Sasuke ainda diante dela, destruído pela culpa. Ela piscou, tentando afastar a imagem de Kakashi, e sentiu uma onda de culpa por sua frieza. Como podia julgar Sasuke, quando ela mesma vivia uma mentira tão profunda?


Movida por uma mistura de pena, amor e um desejo egoísta de aliviar a dor – a dele e a sua própria –, Sakura se inclinou, segurando o rosto de Sasuke com as mãos. Seus dedos, quentes contra a pele fria dele, tremiam ligeiramente. Ela o puxou suavemente, os lábios encontrando os dele em um beijo lento, carregado de emoção. O gosto salgado das lágrimas dele misturava-se ao dela, e por um momento, o mundo se reduziu a eles dois, presos em um instante de fragilidade compartilhada. — Eu te amo — murmurou contra a boca dele, os olhos molhados, um nó na garganta. — Apesar de tudo, eu te perdoo. Vamos seguir em frente.

Eles se abraçaram, os corpos colidindo com uma força que parecia querer apagar o passado. Sasuke a segurou com uma intensidade quase desesperada, o rosto enterrado em seu ombro, o alívio misturado à culpa. Mas enquanto ele se ancorava nela, Sakura sentia o peso do mundo cair sobre seus ombros. Como podia ser tão fria? Sasuke, sempre uma rocha emocional, estava destruído, e ela não sentia a mesma culpa por Kakashi. Aquela voz interna a corroía, justificando suas escolhas: “Ele estava com Karin enquanto você sofria. Kakashi te deu amor, te deu força.” Ela se soltou do abraço suavemente, tentando disfarçar a expressão fria que ameaçava traí-la.

Sasuke percebeu algo. Seus olhos, ainda vermelhos, estreitaram-se sutilmente, uma sombra de dúvida cruzando seu rosto. — Sakura… você tem algo pra dizer? — perguntou, a voz baixa, quase receosa. — Seu rosto… parece que quer dizer mais do que sua boca.

O coração dela disparou, a culpa a sufocando. Ela gaguejou, as palavras tropeçando. — Não… não é nada. — Ela forçou um sorriso, balançando a cabeça, os cabelos caindo sobre os olhos. — Só… tá sendo um dia intenso. Muito intenso.

Sasuke hesitou, os instintos afiados captando algo que ele não conseguia nomear. Antes que pudesse insistir, Sakura mudou o assunto, a voz ganhando firmeza, como se recuperasse o controle. — Eu falei com Karin antes de vir pra cá. — Ela observou a reação dele, vendo-o tenso, os ombros rígidos, na defensiva. — Ela confirmou tudo. Pediu desculpas, assim como você. E eu… entendo o lado de vocês dois. Provavelmente, tudo isso começou por causa do Orochimaru, da manipulação dele. Não estou com raiva, Sasuke. Me sinto traída, sim, por viver anos numa mentira, mas… — Ela fez uma pausa, os olhos distantes, como se falasse para si mesma. — Entendo que um sentimento pode nascer do nada. Crescer, mesmo que a gente não queira, até… estrangular. Até consumir tudo.

As palavras eram sobre ela e Kakashi, mas para Sasuke, pareciam uma absolvição. Ele assentiu, o alívio misturado à culpa, os olhos fixos nela. Sakura continuou, o tom agora mais sério, quase autoritário. — Só quero que você seja sincero com ela. Termine com Karin, de verdade. Ela não merece ser só uma amante, ser ignorada depois de tudo. — Ela fez uma pausa, os olhos verdes perfurando os dele. — Faça isso por ela. E por nós. Por Sarada.

Sasuke engoliu em seco, assentindo. — Eu vou. Agora mesmo. — Ele hesitou, olhando-a com uma mistura de gratidão e medo. — Quer… vir comigo? Pra ter certeza?

Sakura balançou a cabeça, a expressão suavizando, mas firme. — Não. Essa conversa é entre vocês dois. — Ela cruzou os braços, como se quisesse se proteger da dor que ainda sentia. — Só… faça o que é certo.

Sasuke se levantou, o coração apertado. A ideia de enfrentar Karin doía – não por amor, mas por culpa, por saber o quanto ela havia dado de si mesma para ele, mesmo sem receber o que merecia. Mas o alívio de saber que Sakura não o abandonara era maior, um farol em meio à tempestade. Ele pegou o casaco pendurado na cadeira, olhou para ela uma última vez, os olhos brilhando com uma promessa silenciosa, e saiu. A porta fechou atrás dele com um som pesado, ecoando na sala vazia.


Epílogo

Sakura ficou sentada na mesinha de centro, o rosto enterrado nas mãos, os cotovelos apoiados nos joelhos. O silêncio da casa a envolvia, o tique-taque do relógio na parede amplificando seus pensamentos. Ela olhou ao redor, a sala familiar agora carregada com o peso da manhã – a confissão de Sasuke, a conversa com Karin, o beijo que selara um perdão que ela não sabia se sentia de verdade. A culpa por Kakashi, a voz interna que a justificava, tudo parecia sufocá-la. Ela passou as mãos pelos cabelos, tentando ordenar os pensamentos, mas cada lembrança era uma nova ferida. Como podia perdoar Sasuke enquanto escondia Kakashi? Como podia amar os dois, de formas tão diferentes, e ainda assim querer salvar sua família?

Longe dali, no Palácio do Hokage, a reunião da Aliança Shinobi seguia, mas Kakashi estava visivelmente ausente. Sua mente voltava incessantemente à mensagem fria de Sakura: “Não.” Algo havia mudado, e a inquietação o consumia. Ele tamborilava os dedos na mesa, os olhos fixos em um ponto invisível, enquanto os Kages debatiam a redenção de Itachi e Obito. Por várias vezes, Shikamaru o chamou à atenção, franzindo a testa quando Kakashi respondia com monossílabos ou olhares vagos.

— Kakashi, você tá ouvindo? — Shikamaru perguntou, a voz baixa, mas firme, durante uma pausa na discussão. Ele se inclinou, os olhos estreitados, como se tentasse ler o Hokage. — Parece que sua cabeça tá em outro lugar.

Kakashi forçou um sorriso, ajustando a máscara por reflexo. — Só… pensando em algumas coisas. Nada importante. — Mas a mentira era óbvia, e Shikamaru arqueou uma sobrancelha, claramente desconfiado.

— Sei. — Shikamaru recostou-se na cadeira, cruzando os braços. — Só espero que não seja nada que atrapalhe a vila. Ou você.

Kakashi não respondeu, o peso das palavras de Shikamaru somando-se à sua inquietação. Quando a reunião fez uma pausa, ele pediu licença, saindo para o corredor. O ar fresco do palácio aliviou um pouco a pressão em seu peito, mas não o suficiente. Ele pegou o celular, os dedos hesitando antes de enviar: “Sakura, o que aconteceu? Fiz algo errado? Estou preocupado com você.”

Em casa, Sakura viu a mensagem, o peito apertando. A tela iluminada parecia acusá-la, e ela hesitou, os dedos pairando sobre o teclado. Finalmente digitou, as palavras saindo quase por instinto: “Sasuke tem um caso com Karin. Me contou tudo e o perdoei.”

Kakashi respondeu rapidamente, o coração disparado: “E como você está com isso? De verdade?”

Sakura olhou para a mensagem, os olhos marejando. Ela pensou em Sasuke, no choro dele, no beijo que dera, no perdão que oferecera. Pensou em Kakashi, no amor que sentia, na culpa que a corroía. Digitou, cada palavra um peso: “Aliviada, de certa forma. E menos culpada por nós. Mas… confusa. Não sei o que sinto agora.”

Ela enviou, o peso da verdade – e da meia-verdade – a ancorando à mesinha de centro. O silêncio da casa voltou a envolvê-la, enquanto, no palácio, Kakashi lia a mensagem, os olhos fixos na tela, a mente um turbilhão de alívio, culpa e medo do que viria a seguir.

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