Histórias Não Contadas – Capítulo 7 – Sombras do Passado (KakaSaku)

"Algumas histórias nunca foram contadas, ao menos até hoje... O cotidiano quase sempre é mais interessante do que as grandes histórias que vão pros livros. Romance, drama, sorrisos e lágrimas escreveram mais histórias do que papel e tinta."
Esta é a parte 7 de 18 da série Histórias Não Contadas



Kakashi ficou acordado o resto da noite após Sakura deixar sua casa na madrugada, escapando como uma sombra. Não era a primeira vez que ela saía assim, quase como se fugisse de algo maior que eles dois.

— Ela chegou bem, Pakkun? — perguntou, a voz rouca, os olhos fixos em um ponto qualquer da sala.

— Sim, já está em casa. Precisa de mais alguma coisa, Kakashi? — respondeu o pequeno pug ninja, com um tom que misturava lealdade e preocupação.

— Era só isso, amigo. Obrigado.

Pakkun desapareceu em uma nuvem de fumaça, deixando Kakashi sozinho no silêncio opressivo de sua sala. Ele sempre pedia que o cão a seguisse até em casa, garantindo sua segurança. Era um hábito, uma necessidade de saber que ela estava bem, mesmo que ele não pudesse estar ao seu lado.

Sentado no sofá, ainda nu, Kakashi fechou os olhos. O perfume de Sakura – uma mistura de flores silvestres e algo mais quente, quase terroso – ainda pairava no ar, impregnado nos tecidos, na pele dele. Ele podia quase senti-la ali, o calor de seu corpo, o som abafado de sua respiração contra seu pescoço horas antes. Mas ao abrir os olhos, a realidade o acertou como sempre: ele estava sozinho.

Por anos, aquela relação – se é que podia ser chamada assim – existiu nas sombras. Um segredo que ambos sabiam ser necessário. Uma relação entre mestre e aluna, mesmo com Sakura já adulta, seria um escândalo em Konoha, capaz de manchar a reputação de ambos. Após a fuga de Sasuke, a proximidade entre eles cresceu. Sakura confessou, tempos depois, uma atração pelo sensei. Kakashi, porém, resistiu. Ela era jovem demais, e ele, marcado por perdas, não se permitia ceder. Mas os anos passaram, e a tensão entre eles cresceu até que, meses antes da Grande Guerra, o desejo venceu. O primeiro toque, o primeiro beijo, aconteceu em uma noite de vulnerabilidade mútua, e desde então, não houve volta.

Sakura, agora mais velha, declarou que o amava – não apenas como ninja, mas como homem. Kakashi, pela primeira vez, permitiu-se viver um romance. Sua única condição era o sigilo, para protegê-los. E assim, eles se encontravam em segredo, muitas vezes nas Termas de Konoha, onde o vapor e a água quente encobriam seus encontros. Lá, entre sussurros e toques furtivos, eles se entregavam um ao outro, enquanto funcionários discretamente pagos garantiam que “nada fosse visto”.

Tudo mudou quando Sasuke voltou. A redenção do Uchiha durante a guerra reacendeu sentimentos antigos em Sakura. Ela se viu, mais uma vez, querendo salvá-lo. E, pela primeira vez, Sasuke correspondeu – talvez por gratidão, talvez por algo mais. Isso a abalou. Ela era, tecnicamente, solteira. Ainda amava Kakashi, mas os sentimentos por Sasuke, enraizados desde a infância, voltaram com força.

Kakashi, percebendo a mudança, a afastou. Disse que Sasuke, alguém da idade dela, poderia oferecer a vida que ela merecia – uma família, um futuro sem segredos. No fundo, ele queria ser esse homem, mas o medo do julgamento e a culpa por sua posição como sensei o fizeram recuar. Sakura sentiu o vazio dessa decisão. Os encontros nas Termas cessaram. Na terceira vez que ela foi até lá e não o encontrou no lugar de sempre, entendeu que ele falava sério. Eles não podiam mais continuar.

Apesar da dor do abandono, a vida seguiu. Apenas Ino, a melhor amiga de Sakura, e sua mãe, que a confrontou após ver mensagens trocadas com Kakashi, sabiam do segredo. Para o resto de Konoha, Sakura era apenas a noiva de Sasuke, o herói redimido.

Um ano após a guerra, com Konoha quase reconstruída, Sasuke pediu Sakura em casamento. Nos meses que se seguiram, ela conheceu um novo Sasuke – mais gentil, atencioso, até ousado. Uma noite, enquanto caminhavam sob as cerejeiras reconstruídas, ele a puxou para um beijo inesperado, seus olhos escuros brilhando com uma intensidade que a fez lembrar da garota que sonhava com ele. Aos poucos, os pensamentos em Kakashi diminuíram, enquanto Sasuke ocupava mais espaço em seu coração. Kakashi, por sua vez, a evitava sempre que possível, mantendo uma distância fria e profissional.

Foi então, dois meses antes do casamento, que uma mensagem mudou tudo: “Preciso conversar com você e pedir desculpas. Quando posso te encontrar?”

O coração de Sakura disparou, um nó se formando na garganta. Por que agora? Ela respondeu quase sem pensar, as mãos trêmulas: “Estou livre hoje. Onde te encontro?”

“Minha casa, almoço. Eu cozinho.”

“OK. Chego às 12h.”

“Combinado.”

Sakura ficou paralisada, o celular ainda na mão, enquanto estava na loja de roupas escolhendo o vestido de Ino, sua madrinha de casamento. O tecido brilhante girava no corpo da amiga, que se admirava no espelho do provador.

— E aí? Ficou ótimo, não é? — Ino perguntou, girando com um sorriso.

— O-o quê? — Sakura piscou, completamente distraída, o celular quente contra a palma da mão.

— Sakura, você tá no mundo da lua! — Ino riu, mas ao notar o olhar da amiga, franziu a testa. — O que foi? Sasuke te mandou uma mensagem melosa e te deixou molinha de novo? — Ela sentou ao lado de Sakura, que escondeu o celular rapidamente.

— Não, eu… não é nada — respondeu, rindo sem jeito, o rosto quente.

— Sakura, sem segredos comigo. Fala logo — Ino insistiu, cruzando os braços.

Sakura hesitou, os olhos baixos, torcendo os dedos no colo. — É o Kakashi…

Ino ergueu uma sobrancelha. — E?

— Ele… quer me encontrar. Almoço, na casa dele. Hoje.

— E você aceitou, claro — Ino disse, mais uma afirmação do que uma pergunta.

— Sim, mas… — Sakura mordeu o lábio, o conflito evidente em seu rosto. — Sasuke queria resolver algo sobre o bolo do casamento hoje, e eu…

Ino a interrompeu, colocando um dedo sobre seus lábios. — Você vai almoçar com o Kakashi. Eu cuido do Sasuke.

— Mas, Ino… — Sakura tentou protestar, a voz abafada.

— Nada de “mas”. Você passou meses com isso engasgado. Não pode se casar com essa história mal resolvida. — Ino se levantou, já tirando o vestido. — Vai lá, resolve isso. E me conta tudo depois.

— E o Sasuke? — Sakura perguntou, ainda hesitante.

— Já disse que eu resolvo. Relaxa. — Ino piscou, confiante. — Agora vamos terminar minha prova de vestido, porque você tem um almoço e eu tenho um noivo pra distrair.


Já fora da loja, Sakura abraçou Ino na rua. — Mandei uma mensagem pro Sasuke dizendo que tive um imprevisto no palácio do Hokage. Conto com você pra resolver o lance do bolo.

— Deixa comigo! — Ino sorriu, apertando as mãos da amiga. — Vai lá, resolve isso. E, se precisar, arrasto o Sasuke pra cidade Delta pra te dar mais tempo.

— Obrigada, Ino — Sakura disse, beijando as mãos da amiga antes de se virar e seguir em direção à casa de Kakashi, o coração pesado com o peso do que estava por vir.


Sakura caminhava pelas ruas de Konoha com o coração acelerado, o som dos próprios passos ecoando em sua mente como um tambor. O sol do meio-dia aquecia sua pele, mas ela mal notava, perdida em pensamentos. A casa de Kakashi não ficava tão longe, mas cada passo parecia carregado de peso, como se o chão tentasse segurá-la. O que ele quer? Por que agora? A mensagem dele, tão curta e direta, revirava seu estômago. Era a primeira vez em meses que ele a procurava, e a ideia de vê-lo, de estar tão perto dele novamente, a deixava dividida entre ansiedade e um desejo que ela tentava enterrar.

Quando chegou à porta da casa de Kakashi, hesitou. A madeira simples, ligeiramente desgastada, parecia uma barreira entre o passado e o presente. Ela respirou fundo, tentando acalmar o tremor nas mãos, e bateu duas vezes. O som ecoou, e por um instante, ela pensou em virar as costas e fugir. Mas antes que pudesse ceder ao impulso, a porta se abriu.

Kakashi estava lá, com a máscara no lugar, como sempre, mas sem o colete de jounin. A camisa preta de manga longa, ligeiramente amassada, e os cabelos despenteados davam a ele um ar mais humano, menos o lendário ninja. Seus olhos, no entanto, eram os mesmos – profundos, carregados de uma intensidade que sempre a desarmava.

— Sakura — ele disse, a voz baixa, quase hesitante. — Entra.

Ela entrou em silêncio, o familiar cheiro de livros velhos e madeira queimada envolvendo-a. A casa de Kakashi era simples, quase espartana, mas cada canto parecia carregar memórias. O sofá onde eles já haviam se perdido um no outro, a mesa onde dividiram tantas conversas sussurradas. Ela desviou o olhar, tentando ignorar a onda de calor que subia por seu corpo.

— Senta — Kakashi apontou para o sofá enquanto caminhava até a pequena cozinha. — Fiz um ensopado. Não é grande coisa, mas… espero que esteja bom.

Sakura sentou, as mãos apertando as coxas. O silêncio entre eles era pesado, cheio de coisas não ditas. Ela o observou mexer nas panelas, o movimento preciso e calmo, como se ele estivesse tentando adiar o inevitável.

— Kakashi, por que me chamou aqui? — Ela finalmente perguntou, a voz saindo mais firme do que esperava. — Você disse que precisava conversar, pedir desculpas… mas por quê? Por que agora?

Ele parou, as costas ainda voltadas para ela. Por um momento, Sakura pensou que ele não responderia. Então, ele se virou, o olhar encontrando o dela com uma vulnerabilidade que ela raramente via.

— Porque eu fui um covarde — ele disse, simplesmente. — E porque, mesmo sabendo que você está seguindo em frente, que está feliz com Sasuke… eu não consigo parar de pensar em você.

As palavras a atingiram como um soco. Sakura abriu a boca para responder, mas nada saiu. Seu coração batia tão forte que ela tinha certeza de que ele podia ouvir. Kakashi deu um passo à frente, hesitante, como se temesse se aproximar demais.

— Eu te afastei porque achei que era o certo — ele continuou, a voz rouca. — Achei que Sasuke poderia te dar o que eu nunca poderia. Uma vida normal, uma família, algo que não precisasse ser escondido. Mas… — Ele parou, passando a mão pelos cabelos. — Mas eu estava errado. E agora, vendo você tão perto de se casar, eu… eu precisava te dizer isso.

Sakura sentiu os olhos arderem. Ela queria gritar, chorar, abraçá-lo e ao mesmo tempo socá-lo por ter esperado tanto tempo para dizer isso. Em vez disso, ela se levantou, as mãos cerradas ao lado do corpo.

— Você não tem o direito de dizer isso agora, Kakashi — ela disse, a voz tremendo. — Não depois de me deixar sozinha, de me fazer acreditar que eu não era suficiente. Você me disse pra ficar com Sasuke, e agora, dois meses antes do meu casamento, você quer o quê? Que eu jogue tudo fora?

Ele não respondeu de imediato. Em vez disso, deu um passo à frente, reduzindo a distância entre eles. Sakura podia sentir o calor do corpo dele, o cheiro familiar de pinho e algo que era só dele. Seu corpo traidor reagiu, o desejo que ela tentava suprimir voltando com força.

— Eu não espero que você jogue nada fora — ele murmurou, tão perto que ela podia ver a sombra dos cílios sob o olho descoberto. — Só precisava que você soubesse. Que eu te amo. Sempre amei.

Antes que Sakura pudesse processar as palavras, Kakashi levantou a mão, hesitando por um segundo antes de tocar seu rosto. O toque foi leve, quase reverente, mas foi o suficiente para fazer o mundo ao redor dela desmoronar. Ela fechou os olhos, sentindo o calor dos dedos dele contra sua pele, e por um momento, tudo o que existia era aquele toque.

— Kakashi… — ela sussurrou, a voz falhando. — Isso não é justo.

— Eu sei — ele respondeu, a voz tão baixa que era quase um sussurro. — Mas eu não podia deixar você se casar sem te dizer.

E então, sem pensar, Sakura se inclinou para frente, os lábios encontrando os dele. A máscara estava no caminho, mas Kakashi a puxou para baixo em um movimento rápido, expondo o rosto que ela conhecia tão bem. O beijo foi desesperado, cheio de meses de saudade, de dor, de desejo contido. As mãos dele encontraram a cintura dela, puxando-a para mais perto, enquanto ela segurava o rosto dele, os dedos tremendo contra a pele quente.

Por um momento, nada mais importava. Nem Sasuke, nem o casamento, nem Konoha. Só existiam eles, perdidos um no outro, como tantas vezes antes nas Termas, nos encontros roubados. Mas quando o beijo terminou, a realidade voltou como uma onda fria.

Sakura se afastou, o peito subindo e descendo rapidamente. — Isso não pode acontecer — ela disse, mais para si mesma do que para ele. — Eu… eu vou me casar, Kakashi. Eu amo o Sasuke.

Ele a olhou, o rosto exposto mostrando uma mistura de dor e aceitação. — Eu sei — ele disse, simplesmente. — Mas se você mudar de ideia… estarei aqui… 

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Mestre_Andur

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